A gênese de minhas criações se dá por volta de 1986, com uma década de 1990 bastante prolífica.
Mas foi em 2001, que eu criei um de meus mais importantes personagens; e o que me deu a possibilidade de desenvolvê-lo por mais de uma década.
Estou me referindo a Val, um cara um tanto quanto incomum, meio subversivo, meio crítico e, ácido até à alma.
A virada de século trouxe uma mudança significativa para quem lia HQs no Brasil; capitaneada por Sandman, publicada pela Editora Globo durante os anos 90 – e uma espécie de implosão do monopólio da Editora Abril – o século 21 trouxe um novo tipo de leitor: os super-herois vinham de uma decadência de ideias [bolsinhas, armas e cara-de-cachorro-raivoso] e perdiam terreno, com vigor, para mangás e HQs adultas. Claro, o público estava amadurecendo – e a nova geração estava mais interessada em quadrinhos oriundos da Ásia.
As novas editoras que surgiram em nosso país, miraram nessas novas demandas – algumas tentaram manter super-herois em seu acervo, mas apenas como coadjuvantes de um gênero em que já foram protagonistas.
Enfim, 2000 trouxe a era de Hellblazer – John Constantine, Invisíveis, Preacher, Shade, Patrulha do Destino e por aí vai.
Histórias com uma temática voltada para atormentar, debater, ao contrário de outrora, onde vivíamos a “saga do ano” e “quem morreu dessa vez?”
E foi esse público que eu encontrei quando visitei pela primeira vez a Gibiteca de Londrina/PR.
A Instituição era uma novidade na cidade e, embora eu não considerasse ter qualquer relação com ela, acabei por conhecê-la.
O convite surgiu da seguinte maneira: eu estava produzindo, em parceria com o desenhista Anderson Cossa, um oneshot d’Os F.E.D.E.R.A.L. para enviar à Editora Escala na tentativa de gabaritar para o selo Graphic Talents.
Fui à uma gráfica rápida para imprimir a capa e conferir prováveis erros de cor; lá, o atendente gostou do que viu e me convidou a fazer parte de um futuro fanzine da Gibiteca, que eles estavam tentando levantar.
Aceitei o convite e levei Cossa comigo.
Na Gibiteca, encontramos o público diferenciado ao qual eu havia citado acima; com uma predileção maior por Garth Ennis que John Byrne e banhos de sangue em detrimento de troca de socos nas ruas.
Para que você tenha ideia, Os F.E.D.E.R.A.L., embora sátira, ainda era quadrinho de super-herois.
E ali, naquele lugar, eu percebi que precisava de um personagem que se conectasse com esse público.
Minha vantagem é que eu adorava Invisíveis e Hellblazer, além de Kid Eternidade, Orquídea Negra e O Último Americano. Então, não era difícil conversar sobre isso, tecer teorias e até me inspirar nessas tramas.
Outro ponto positivo é que o cinema dos anos 1990 foi uma fonte fértil de boas ideias e tramas estapafúrdias que desembocavam em diversão garantida.
Tudo foi utilizado na costura da construção de Val – inclusive o nome. E o visual, a maneira, de certa forma, agressiva de falar, davam ao personagem um clima subversivo e diferente.
Provar eu não posso, porém, lembro-me de ter visto um site, cujo mote era conselhos para homens se darem bem com mulheres, cujo anfitrião – uma ilustração – era exatamente o Val. Entrei em contato com eles perguntando sobre a referência, mas nunca recebi resposta. No entanto, o visual do personagem mudou, e até um bigode foi inserido.
As pessoas que liam Val, gostavam do personagem e me enviavam feedbacks, inclusive com sugestões.
Quando Val foi parar nas páginas do fanzine Areia Hostil, o editor, Lorde Lobo, me confidenciou que recebera uma dupla de leitores que frequentemente criticavam as HQs da revista. Do Val, todavia, eles falaram bem. E isso me fazia sentir maior responsabilidade com as HQs que deveria entregar.
Val apareceu entre as edições 5 a 14 de Areia Hostil e esse espaço me foi fundamental para explorar o personagem da melhor maneira possível. Inclusive, uma boa repercussão pelo circuito dos quadrinhos pré-Comic Cons.
Em 2007, já fora da Areia – a revista foi até o número 16 – reuni as HQs que considerava mais importantes e turbinei o miolo com mais três, inéditas, produzidas especialmente para a edição e lancei. O retorno foi bastante significativo, o que me deu mais confiança para continuar o trabalho.
Val #1 serviu de base para a professora Adriana Giuliani, debater a produção e leitura de HQs nas escolas, inclusive na língua inglesa. A professora, com muita gentileza cita meu nome como referência de quadrinhista paranaense, o que deixou este autor bastante honrado.
O livro, O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE, pode ser lido aqui.
Com a chegada do site, decidi por atualizar minhas HQs e organizá-las para que os leitores que não as conhecem, possam ter uma reação otimizada dos personagens.
Com isso, fiz um upgrade em Val #1, com a inclusão de duas HQs: uma mais recente e outra totalmente inédita. A partir daí, refiz a capa e passo a chamar a edição de Val#1 Remasters – uma edição remasterizada.
HQs da edição:
- One Last Cigarette – muito antes da volta de Mestres do Universo [inclusive, antes até da renovação no início do século] Val trava encontro com ninguém menos que Esqueleto. A arte de Israel Gusmão apenas enriquece a história.
- A Busca – como a maioria dos fãs de quadrinhos, Val decide se tornar quadrinhista e entrar para a Areia Hostil. O que ele não contava é que os editores são uma dupla de espertalhões que tentam convencê-lo a comprar um de seus cursos. Val encontra um outro caminho. Comecei a escrever e a desenhar a HQ, mas falhei flagorosamente; então Anderson Cossa veio em meu socorro e ilustrou as seis páginas que faltavam. Obrigado, Cossa.
- Na Sala de Espera – outra HQ em parceria com Cossa; a estreia de Erin Forbes nas páginas de Val, quando eles se encontram numa sala de espera qualquer e conversam sobre uma teoria que Kevin Smith criou para o Superman e Lois Lane.
- Eu Sei Que o Momento Parece Estranho, Mas Não Se Faz Mais Homens Como Antigamente – é o que acontece meia-hora após os eventos na sala de espera. Denis Pacher nos concede sua arte.
- Contatos Imediatos de Terceiro Grau – é Gerson Witte e eu tramando nossas antipatias contra Steven Spielberg, Tom Hanks e os filmes que tentam nos convencer a não crescer.
- Eu Sou Lenda – seria uma versão da história anterior; porém, Nel evoluiu o conceito, transformando Val numa máquina de extermínio ---de alienígenas.
- + Uma do Val – historicamente, essa é a segunda HQ do personagem; foi produzida em 2001 e publicada no caderno de domingo do Jornal de Londrina. Anderson Cossa faz as honras nos desenhos.
- Esquisito – quase autobiográfica, essa HQ foi uma solicitação de Vini Visentini, um de nossos artistas frequentes; ele estava lançando uma edição com suas criações, personagens e HQs e me estendeu um convite para participar.
- Val/Triplo – Lico Mota, criador da infame Tropa de Heróis, se uniu a Anderson Cossa para esse encontro de boteco entre duas forças da verborragia. Essa história permanecia inédita. Até agora!
- Um Cara Chamado Val – é onde tudo começou para esse personagem que me é tão importante.
Val #1 - Remasters está na nossa página de entrada - e você pode acessá-la clicando aqui - ou então baixar o pdf abaixo.
Ótima leitura e não esqueça de nos deixar suas considerações.
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