Profundo, Maeve, Stormfront, Homelander, Starligh, Blak Noir e Trem-Bala
Estreou por esses dias a segunda temporada de The Boys, a imensa série que amassa os super-herois, criada por quem odeia uniformizados: Garth Ennis.
Produzida por Seth Rogen, a série tinha tudo para ser uma comédia, tirando sarro de tudo o que há de mais piegas em super-herois – poderosos ou não.
Enquanto divulgava Batman Begins, Christian Bale falou sobre o quão ridículo seria se vestir de morcego na vida real, e que essa é a magia do cinema.
Garth Ennis sempre achou ridículo em qualquer instância.
Enfim, a primeira temporada terminou com uma revelação pra lá de surreal: a esposa de Billy Butcher, Becca, está viva! E tem um filho!! Com Homelander!!!
Seguimos para a nova temporada, Butcher está desaparecido desde então; Homelander está empenhado em ser pai – já que é um órfão e sente essa lacuna – e fará de tudo para ser aceito pelo filho. Inclusive o encoraja a manifestar os próprios poderes, logo, de uma vez.
The Boys – e Fêmea – reunidos!
Becca, obviamente, quer distância do super facínora e quer criar o filho num lar saudável, como toda mãe sonha.
E quanto os outros membros dos Boys? Eles estão na mesma; esperando algo acontecer e entediados, embora não possam sair muito, pois são procurados pelo FBI e toda e qualquer agência possível.
Aliás, há uma terrível encheção de lingüiça nos primeiros episódios, enquanto eles ficam escondidos, que é duro de engolir.
Bem, Butcher volta e, com ele, as missões e as confusões – claro, ele é o cara dos contatos – e, agora que ele sabe que a esposa está viva, bem e tem um filho, o que ele mais quer? Resgatá-la.
Becca Butcher
Ele consegue uma mutreta com uma ex-agente da CIA para tentar pegar o super terrorista – que Homelander chama de super vilão – e entregar à agência, para assim provar que a Vought faz “trabalhos humanitários noutras nações”.
O problema é que o tal super terrorista é o irmão mais novo da Fêmea e isso faz com que o grupo rache. Ela quer salvar o irmão e fugir com ele de volta ao Japão, enquanto os outros tentam capturá-lo e levá-lo para a CIA.
Enquanto isso, os Sete têm um novo membro, Stormfront, e a Vought, um novo chefe – já que a Elisabeth Shue morreu na primeira temporada.
O nome dele? Stan. Hmmm – como diria o Ozimandias, de Watchmen.
Stan não está nem aí para os Sete e pouco se importa com Homelander ou essas ações promocionais do grupo. O negócio dele é a Vought.
Tanto que Stormfront entra para a equipe sem a anuência de Homelander – fato que o deixa possesso. Stan dá de ombros.
Stormfront
Rapidamente, Stormfront toma conta da equipe, das redes sociais e da opinião pública quando captura o super terrorista e dá uma surra na Fêmea.
Profundo, por sua vez, que ainda está demissionário dos Sete – e por isso, eles são Seis agora – está tentando refazer sua imagem de bom moço e não mais um macho branco e assediador, como ficou conhecido num passado recente. Inclusive, um amigo, uma espécie de Arqueiro Verde daquele universo, tenta levá-lo para uma igreja que mais parece a Cientologia.
O problema de Profundo, perdoe-me o trocadilho, é mais profundo, e ele é um pateta, assediador ou não; ele tem a missão de capturar os The Boys e o superterrorista e usa seus poderes de comunicação com o reino marinho para isso; e aí há a cena da Baleia, que é um misto de originalidade; genialidade e tosquice ao mesmo tempo. Profundo jamais imaginaria que uma ofensiva de Butcher poderia ser tão ofensiva assim! E o preço foi alto.
No final, os Sete apareceram, houve o encontro rápido das duas equipes e ao final do dia, Stormfront capturou o super terrorista, dando fim à ameaça e de quebra, livrou a cara da Vought e de Stan.
Homelander ficou putaço com tudo, perdeu o protagonismo em todos os lugares e agora terá que lidar com as frustrações que todo o ser humano adulto passa.
Tudo parece interessante, certo? E até certo ponto é; no entanto, você sempre sente falta de algum elemento, enquanto assiste The Boys.
Primeiro, embora a série se chame The Boys, nem eles, nem Butcher são os protagonistas. As melhores cenas ainda estão com Homelander, o grande protagonista da história. O Butcher, de Karl Urban parece perdido. O Hughie, de Jake Quaid, parece um pastiche de todos os papeis ridículos que o pai deste – Denis Quaid – fez um dia. Francês não consegue sair do zero a zero. A Fêmea tem todo uma tragédia por trás de si e essa subtrama poderia ser muito melhor explorada, porém acaba num episódio. E Leite Materno só funciona por puro talento de Laz Alonso, que criou uma espécie de Assistente Social em tempo integral, o que torna o personagem muito mais crível.
Já falei sobre Profundo; Black Noir é uma incógnita – e para quem leu as hqs sabe o motivo; Starlight é maravilhosa, porém lhe falta também um maior desenvolvimento, pois ela é uma personagem com conflito de identidade, foi criada com essa característica. O problema é que ela não consegue passar isso. Parece mais interessada em agradar a um público cativo de Stranger Things ou algo assim. Maeve é outro personagem, totalmente nova, em relação à sua contraparte das hqs – o que é algo bom, pois pode fazer outras coisas e até mesmo sua subtrama é interessante, uma vez que ela supostamente homenageia a Muher-Maravilha. Tudo depende de onde ela irá com essa trama sendo desenhada. Trem-Bala está com seus problemas de não conseguir correr e as questões envolvidas com sua ex-namorada. E, em vias de ser demitido.
E Stormfront, que nos quadrinhos era um homem, uma versão do Capitão Marvel [Shazam!] aqui se tornou uma mulher. O que também é interessante, pois há esse embate entre ela e Homelander, em todos os sentidos.
O que a série está desperdiçando?
Os criadores da série estão com os personagens de The Boys, porém lendo Poder Supremo/Esquadrão Supremo, de J. Michael Straczinski e Gary Frank. Ou seja, estão bebendo da fonte, que bebeu da fonte de Miracleman, que bebeu da fonte de Capitão Marvel [Shazam! De novo].
Já que é assim, eles poderiam seguir nesse caminho e desenvolver melhor algumas situações que nasceram na série: por exemplo, Butcher odeia Homelander. Mas você já pensou se o Super-Homem realmente existisse e a sua missão de vida seria matá-lo? Não, não há kryptonita! Como fazê-lo, então? É fogo contra fogo, meu[minha] amigo[a]! Ou seja, você tem em sua equipe uma moça cujo irmão poderia fazer frente ao homem mais poderoso da Terra e você vai entrega-lo à CIA? Por quê? Pra quê? Por que não ter o seu próprio super-herói, que poderá ao menos ser um super guarda-costas caso o Homelander venha em seu encalço. E, com ele, seria possível até resgatar Becca.
Outra: isso deixaria Fêmea muito feliz, leal e em paz com ela mesma. E, com ela em paz, Francês, cujo intuito na série é simplesmente dar uma bimbada nela, também ficaria.
E, claro, chegaria o momento do embate; possivelmente o irmão de Fêmea morreria, talvez assassinado pelo próprio Homelander. E bingo! Temos uma Fêmea extremamente motivada em acabar com os Sete de uma vez!
Já Homelander, mais perdido que cachorro quando cai de mudança, sem a presença de Elisabeth Shue, sem a unanimidade na equipe, na empresa, na opinião pública, poderia satisfazer sua carência, sendo honesto consigo mesmo pela primeira vez na vida, ao tentar arcar com suas responsabilidades e se tornar um pai de verdade; assim ele poderia, pela primeira vez, abandonar o uniforme e ser apenas um pai de família – para desgosto e asco de Becca, obviamente.
Porém, ao dar as costas para tudo, isso criaria um sentimento de relaxamento na Voight e, principalmente nos Sete. Assim, Trem-Bala permaneceria na equipe, com todos os seus problemas sendo jogados para debaixo do tapete; Stormfront poderia se aprofundar na equipe e até liderá-la; Maeve poderia ser finalmente feliz e relaxada; e até mesmo Profundo poderia voltar. Seria interessante até a Voight criar um reality show para escolher o substituto do ex-líder da equipe.
E, claro, os problemas começariam a aparecer, já que eles não teriam um cara que está em todos os lugares ao mesmo tempo e respirando tudo aquilo.
Derrotas, discussões, problemas pessoais, que todos camuflavam, ficariam cada vez mais aparentes.
Starlight, por exemplo, poderia oficializar seu relacionamento com Hughie.
E onde isso os levaria? Talvez à quase extinção dos Sete. Talvez à necessidade de trazer Homelander – e todos os problemas que isso causaria – de volta e um embate com os The Boys num final de temporada.
Talvez esse embate deflagrasse as mortes de Becca e do superterrorista, com o desaparecimento do filho de Homelander.
Talvez, o menino tenha sido seqüestrado por uma facção super terrorista norte-coreana. Quem sabe?
Talvez, assim, The Boys finalmente engrenasse e seus membros, então, fizessem uso do composto V e teriam condições de brigar com os supers de igual para igual.
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