Chloé Zhao é, sem sombra de dúvidas, uma diretora excelente! O primor nos pontos de vista, as panorâmicas, o capricho nos detalhes de cenas de destruição--- tudo muito bonito.
Infelizmente, ela foi agraciada com um convite ingrato, uma vez que seu estilo nada tenha a ver com a HQ que deu origem ao filme.
Jack Kirby, o Rei; marcante poderia ser o seu nome do meio, uma vez que seu estilo é inconfundível.
Lembro-me de uma apresentação da finada Fox, onde foi anunciado inclusive o filme de Gambit, com Channing Tatum aceitando estrelar, escrever, dirigir e até pagar pela produção – e nem assim conseguiu.
Nessa apresentação, o visual era todo kirbyano. E, é interessante, porque X-Men e Jack Kirby quase não se aproximam. Afinal, sinônimos de mutantes são Chris Claremont, John Byrne, Jim Lee e Louise Simonson! Mas botaram um visual kirbyano. E posso lhe dizer que ficou bonito!
Sendo honesto, Kathryn Bigelow – diretora de A Hora Mais Escura, Detroit em Rebelião e os blockbusters K-19 e Caçadores de Emoção – seria uma escolha mais acertada para levar Eternos às telonas.
Porque de existencialismo Eternos – a HQ – não tem nada. Chega quase a ser um sincretismo, mas com pancadaria e cores!
Ao invés disso, vemos diálogos sofríveis, com situações forçadas e pueris.
Veja bem, esses personagens têm cinco mil anos de vida cada. E não conseguiram evoluir em conhecimento? Como assim?
Como pode o estalo de Thanos, ocorrido cinco anos antes dos eventos do filme, se tornar fundamental a ponto de um personagem decidir trair seu “criador”? Assim, do nada?! Imagine um idoso de 80 anos, sem ser Silvio Santos, tomando uma decisão crucial que mudaria todo o status atual de sua família--- agora considere alguém com milênios de experiência.
Eternos mostra os membros de uma família, que chegou à Terra para uma espécie de ajuda demográfica e que, ao final, seria a direção para uma evolução cósmica, com o nascimento de um novo Celestial – uma espécie de criador de sistemas solares.
Com todo o tempo do mundo, os Eternos acabaram se separando pelas circunstâncias da vida e uma situação de urgência os reúne.
O problema é que Sersi e Ikaris eram amantes e acabaram por separar lá atrás. E agora, com a reunião, Ikaris descobre que Sersi está namorando Dane Whitman, que virá a se tornar o Cavaleiro Negro. Além disso, há uma situação de saúde de um membro da família; há outro que se afastou por não aceitar o jeito passivo que eles foram orientados a viver.
Eles precisarão resolver suas diferenças para impedir que um mal ancestral volte de vez e destrua a humanidade. O problema é que, aparentemente, esse mal ancestral é só cortina de fumaça para a verdadeira ameaça para a Terra e seus habitantes.
Eternos, como filme, falha em todas as tentativas; seu roteiro direciona para a lacração, deixando claro que a maioria dos homens, ou não presta – e se tornam os vilões, então, as pistas estão por aí – ou é desconstruído e prendado. Afora isso, as mulheres lideram, são valentes, impetuosas, afetivas e amam!
Como Sersi ama! a humanidade!
Sim, ela ama! Sersi ama!
E é muito chato!
Na HQ, os “vilões” de Eternos são chamados de Deviantes, que seriam figuras disformes e grotescas, e por isso seu ímpeto é o de assombrar a humanidade.
No filme, eles, ora parecem lobos, ora parecem qualquer coisa. E ora, você não compreende o que eles se tornaram. Totalmente genérico.
Perguntada sobre seu filme – e a recepção morna que ele têve - Chloé Zhao disse:
"Quando você está na Marvel e lida com um público tão grande, eu realmente valorizo e respeito o fato de cada um de nós ser tão único. É emocionante que sejamos todos tão diferentes e estejamos todos mudando e crescendo, todos os dias. Mas com um público global, é quase impossível deixar todos perfeitamente felizes, e fazer isso é dizer que todos são iguais. Então, acho que inevitavelmente haverá essa [diferença de opinião], e você só tem que permanecer fiel ao tipo de filme que deseja fazer, quem você é e as pessoas com quem está colaborando. Isso é tudo o que você pode fazer, realmente, e se divertir. Todo o resto está fora de seu controle.” “Quando li sobre essa história, fui atraída por como esses personagens são coloridos e verdadeiramente diversos. E as perguntas que são feitas neste filme são as perguntas mais humanísticas – perguntas que eu faço como ser humano, como mortal. Então, vai ser um filme muito divertido e bonito. Mas também é muito pensativo e muito humanista. Isso é o que realmente me excita.” Perceba que ela, em nenhum momento fala a respeito de Jack Kirby, mas das cores e diversidade. E parte para falar do próprio roteiro. Ou seja, Eternos continua nas revistas em quadrinhos.A respeito de um possível Eternos 2, Zhao diz “sem comentários”.
Comments