O prolífico escritor, David S. Goyer, passou a carreira de mais de 30 anos - escrevendo os mais variados tipos de roteiros, seja para blockbusters, seja para filmes independentes, seja para séries - a limpo.
Em entrevista ao Hollywood Repórter, Goyer detalha sua relação com Christopher Nolan na trilogia Batman, as confusões com Wesley Snipes no set de Blade Trinity, a superprodução da Apple+, A Fundação, roteiros nunca filmados, e muito mais.
Vou pontuar caso a caso, com tópicos para facilitar a sua leitura.
Portanto, aconchegue-se e siga abaixo um pouco da vida de um dos mais famosos roteiristas de Hollywood:
O primeiro sucesso
Segundo o IMDB, o primeiro roteiro creditado a Goyer foi o filme de prisão, Garantia de Morte, estrelado por um Jean-Claude Van Damme em início de carreira. Curiosamente, o segundo roteiro foi a sequência de outro filme estrelado por Van Damme, porém sem o belga: Kickboxer 2.
Após várias tentativas com filmes B, feitos para a TV e sequer filmados, há duas menções: Cidade das Sombras, que foi muito elogiado quando lançado; e a continuação de O Corvo, o filme que ficou marcado pela trágica morte de Brandon Lee, filho de Bruce Lee. A seqüência, escrita por Goyer, chamada O Corvo: Cidade dos Anjos é ruim de doer, estrelada equivocadamente por Vincent Perez – papel anteriormente oferecido a Jon Bon Jovi [?].
Oito anos após Garantia de Morte, e Blade trouxe o primeiro hit para David S. Goyer. A união de artes marciais, Wesley Snipes e vampiros foi dinamite pura e, uma trilha sonora estonteante fez o Caçador de Vampiros abrir as portas dos quadrinhos para os cinemas de forma definitiva – pois, foi Blade quem encorajou os produtores da Fox a apostarem no sucesso de X-Men.
Os problemas com Wesley Snipes
Tudo começou quando o ator Patton Oswalt, numa entrevista sobre sua carreira como comediante, detalhou os seus dias no set de Blade Trinity.
O mais interessante é quando ele diz que o enredo do filme mudou em algum momento da produção: “[...]há uma cena em que Blade entra e confronta um cara por sequestrar humanos. Essa cena deveria ser toda a base do filme. Blade está lutando pelo último fragmento da humanidade. Mas eles pensaram que era tão sinistro, então decidiram fazer Blade lutar contra Drácula.”
Segundo Oswalt, as filmagens aconteceram em Vancouver, no Canadá, chovia muito e, Snipes, a estrela do filme, mal saía do trailer, resumindo seus dias a fumar maconha. O momento da explosão de gênios aconteceu quando a produção autorizou o elenco a gravar com suas próprias roupas – e não as escolhidas pelo figurino. Um dos atores, negro, vestiu uma camiseta cuja estampa era a palavra “Lixo”.
Snipes, supostamente não sabia de nada e quando parou os olhos na estampa do rapaz, voou na garganta do diretor e vociferou: “Um dos únicos atores negros no elenco e você o escala vestindo esse tipo de roupa--- seu FDP racista!”
Depois que os ânimos se acalmaram, e as filmagens terminaram – se é que aconteceram naquela noite – o elenco foi a uma boate. Lá, segundo Oswalt, Goyer conheceu alguns motoqueiros e os pagou para irem ao set no dia seguinte e se declararem seguranças do diretor, perante Snipes. Isso de fato aconteceu, o astro do filme ficou com medo e se refugiou de volta a seu trailer. No dia seguinte, ele se reuniu com o diretor, pediu a saída deste e disse que ele era prejudicial ao filme. Goyer retrucou, afirmou que prejudicial era ele, Snipes, e que poderia sair, uma vez que todos os closeups dele já haviam sido feitos; e que ele, Goyer, poderia tocar o filme utilizando dublês de corpo, sem a presença da estrela. É claro que Snipes não aceitou e passou a se comunicar com o diretor por postits, assinando Blade.
Ainda segundo Oswalt, Snipes se manteve no personagem o tempo todo, meio que jogando todo o elenco contra si. E todas as piadas ruins que Ryan Reynolds conta no filme são resultado da ausência de Snipes nas filmagens.
Sobre isso, Goyer diz que respeita Wesley Snipes pelo ator que é, mas não o considera mais um amigo. Já, Patton Oswalt, ele mantém a amizade.
Na ocasião do lançamento de Um Príncipe em Nova York 2, Snipes finalmente se pronunciou a respeito das declarações de Oswalt:
Ele disse que, se um ator, musculoso e negro, estrangulasse um diretor de cinema, esse ator sairia do set preso. Disse também que todos tendem a acreditar nas declarações de um homem branco, por mais absurdas que sejam e que, com isso, essas micro agressões são os desafios que os negros são obrigados a enfrentar todos os dias na América. Snipes também lembra que era um dos produtores executivos do filme e por isso não poderia atuar tão monossilabicamente assim. E, também, seria dele, Snipes, a palavra final sobre quem dirigiria o filme.
Lembro-me que esse foi o pomo da discórdia entre Snipes e Goyer desde o início, pois o roteirista se tornou diretor do filme sem a aprovação do astro.
Coringa estaria em Cavaleiro das Trevas Ressurge caso Heath Ledger estivesse vivo
Embora o diretor, Christopher Nolan, não gostasse de trabalhar com planejamentos além do que ele estava filmando, e o terceiro filme da trilogia só começou a ganhar forma três meses após o lançamento de Cavaleiro das Trevas, é bem provável que o Coringa aparecesse. Até porque Bane liberta os prisioneiros do Asilo Arkham. Então---
Ainda sobre a trilogia
O terceiro filme realmente os deixou sem idéias: ele e Nolan não conseguiam definir como Batman venceria Bane; como Bruce Wayne fugiria de seu cativeiro e qual seria o momento ideal para a revelação de que Tália era a filha de Ra’s Al Ghull.
Como eles não chegavam a destino algum, Nolan sugeriu que eles dessem uma pausa de uma semana para que as idéias voltassem.
Nessa semana, Goyer acabou lendo os primeiros exemplares de Action Comics – que apresentavam as aventuras do Super-Homem – e, quando perguntado se conseguiu alguma solução, ele disse que não, mas tinha uma excelente idéia para um filme do kryptoniano. Assim surgiu o filme O Homem de Aço.
Nolanverso?
David Goyer disse que Christopher Nolan não queria proximidade entre o seu Batman e os outros filmes da DC na Warner. Os produtores, no entanto, queriam muito que O Homem de Aço se passasse no mesmo universo de Cavaleiro das Trevas; o que, inclusive Zack Snyder chegou a comentar que o assunto não estaria fora de questão.
Suas adaptações de filmes de super-herois preferidas
Goyer tem quatro preferidos: Cavaleiro das Trevas, Logan, Capitão América: Soldado Invernal e Thor: Ragnarok.
Sobre seus roteiros para outros filmes da Marvel
Além da trilogia Blade, Goyer escreveu roteiros para filmes de Motoqueiro Fantasma, Dr. Estranho e Nick Fury:
O enredo de Nick Fury: Agent of SHIELD, obviamente não tinha o personagem interpretado por Samuel L Jackson como alvo; mas o personagem original, o Nick Fury caucasiano que lutou na Segunda Guerra. A história seria baseada na fase produzida por Jim Steranko nos quadrinhos e teria Barão Strucker como vilão.
O estúdio que havia encomendado o roteiro perdeu os direitos de produção e, ao que parece a Fox comprou esses direitos; com isso, ela quis adaptar aquele roteiro para uma série de TV, com um orçamento 90% mais baixo. Mesmo se negando a se envolver, Goyer ainda ganhou o crédito como roteiro no episódio-piloto.
Sobre o roteiro de Dr. Estranho, seria um filme para a Columbia e ele estava bastante animado, pois seria um filme fiel ao personagem. Porém, os produtores não conheciam muito bem o mago supremo e pediram para Goyer diminuir a dose de magia.
“Nós amamos este roteiro e queremos fazê-lo, mas há muita magia nele e desejamos que você pudesse tirar muito da magia.”
Quando Goyer disse que o produtor sequer entendia do que se tratava o personagem, acabou demitido.
Motoqueiro Fantasma tornou-se um filme. Não exatamente como Goyer escreveu. Na verdade, Avi Arad, então produtor do filmes Marvel na Sony, encomendou um roteiro do Espírito da Vingança para o roteirista, que o fez; o problema é que o estúdio achou muito próximo de um filme de terror, e eles queriam um filme de super-herois – se você assistiu ao primeiro Motoqueiro Fantasma sabe do que estou dizendo. Com isso, o roteiro foi para a gaveta. Até que decidiram fazer uma sequência para o filme estrelado por Nicolas Cage. Como não tinham uma história, decidiram pegar o roteiro de Goyer e amenizá-lo. O resultado foi Motoqueiro Fantasma: Espírito da Vingança.
Sobre a adaptação de Sandman para a Netflix
Aparentemente, todas as tentativas de adaptação da série feitas pela Warner estavam totalmente equivocadas; em dado momento, Neil Gaiman, o criador da série em quadrinhos, declarou que um roteiro anterior não era apenas o pior do Sandman já escrito, mas o pior que ele leu; em toda a sua vida!
E, embora a Warner não quisesse, tanto Goyer quanto Gaiman entenderam que Sandman precisaria de um projeto de streaming e não um filme. Goyer viu as coisas melhorarem quando convenceu os executivos a autorizarem Neil Gaiman a entrar como produtor e co-roteirista.
Agora, aparentemente, a série voltará para a Warner e deve ser uma das novidades de HBO Max.
Sobre o filme de Mestres do Universo
Goyer escreveu o roteiro e negociou a direção; no entanto, a Sony não fez as coisas andarem. A idéia é que o estúdio produzisse e a Netflix distribuísse através de sua plataforma. A data de lançamento inclusive era 2020.
Em seu roteiro, Goyer mostra Gato-Guerreiro como uma espécie de parceiro dos diversos He-Men que passaram por Eternia. E o enredo focaria neste jovem He-Man – possivelmente seria interpretado por Noah Centíneo – que tenta conquistar a parceria de Gato-Guerreiro enquanto mantém o planeta livre da ameaça de Esqueleto.
Hoje sabemos que Centíneo já se desligou do projeto e, embora a Mattel Television e Netflix tenham interesse num novo filme do campeão de Eternia, não há nenhum movimento nesse sentido, no momento.
A Fundação
Quando a Apple+ perguntou se Goyer poderia definir a saga A Fundação numa frase, ele disse: "É um jogo de xadrez de 1.000 anos entre Hari Seldon e o Império, e todos os personagens entre eles são os peões, mas alguns dos peões ao longo desta saga acabam se tornando reis e rainhas."
Ele imagina e gostaria que a série se estendesse ao menos por oito temporadas, onde poderá narrar os mil anos de forma antológica e eventualmente seriada.
O orçamento é gigantesco e eles acreditam muito no potencial da série, embora ninguém saiba se dará certo ou não.
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